Pensamento Urbano
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Barcas do Inferno
Aroma de Café
proporciona um perfume único e provocante.
Aquece ideias sem nexo e desperta sentidos controversos.
Últimos brilhos do luar acompanham olhares sedentos por respostas.
Existem dúvidas sobre o relógio? Ponteiros vulgares e mentirosos.
Nunca souberam o tempo exato de prisão de um homem.
No enclauso de sua incerteza e salvo em minutos de lucidez.
Quando percebe, em meio a devaneios, o fim de uma procura.
Surgem os primeiros clarões da manhã.
A fumaça vinda da xícara não existe mais.
O café se torna frio.
No momento em que se é devorado
mais um pedaço do dia.
Revivendo um pensamento
Sejam sempre bem-vindos e não deixem de refletir sobre nós mesmos a cada visita.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Ainda que venham através dos trilhos,
Os vagões com lembranças de um tempo que ainda não passou.
Serão dias de viagens de crianças a uma Terra do Nunca.
Estação da saudade.
Dias que se passam e fazendas que se vão,
Passageiros que entram e depois nunca mais embarcam.
Bilhetes para o infinito atrás dos túneis.
Estação da saudade.
Fotos da única praia em que esteve;
Distante e calma como o paraíso.
O Sol está em sintonia com o mar.
Estação da saudade.
Uma única vez a menina irá brincar de boneca
E admirar o menino no banco de trás com seu estilingue.
Estação da saudade.
Chegará o dia em que os trilhos se acabarão.
A menina irá crescer, o menino também.
A praia secará e o Sol dará lugar à Lua.
Os túneis não terão mais fim e os passageiros desaparecerão.
A estação se chamará Saudade.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Rita
O telefone incessantemente tocava naquele pequeno quarto de hotel. Alugado a algumas notas velhas de dinheiro, não valia pelo que havia pago nele.
Chegara na cidade há poucos dias. Procurava incansavelmente pelo seu mais precioso objeto, protegido por décadas dentro de uma caixa de madeira. Procurava em vão qualquer alma que pudesse satisfazer a curiosidade.
O anúncio publicado no jornal atiçava a curiosidade daqueles que viriam a ser seus vizinhos, seus cúmplices na busca do que imaginavam ter algum valor pela sua importância descrita. Eram poucas linhas, mas que chamavam a atenção: “Caixa, pequena, com ornamentos talhados artesanalmente. Conteúdo precioso. Há várias gerações na família. Gratifica-se”.
Descrição pouco importava a ele que trajava impecavelmente seu habitual terno. Levava consigo uma pasta preta a qual os malandros cobiçavam. Em bares, enfrentou brigas, discussões animadas com bêbados e donos do carteado. Brigava para ser o homem das amantes de cafetões. Sabia se proteger, tanto pelo porte físico avantajado como pela lábia impecável de um viajante.
Amava as mulheres todas as noites desde que desembarcara na estação bem ao centro daquela decadente cidade, puxada pela ferrovia e riquezas do café. Sentia saudades de acordar menino, arrumar-se obrigatoriamente e saciar a fome com pão, café e leite. Adulto, já não mais perde tempo com bobagens ao acordar todas as manhãs ao lado de uma mulher diferente.
Soube da cobiça pecadora daquela jovem. Ele, que gostara dela no momento em que entrou e apoiou-se sob o balcão do bar. Loira, fatal, não tinha idade de ser mãe. Também não era por menos mais uma menina. Sabia do que os homens gostavam e como seduzi-los numa batalha de interesses, no suspense de um flerte de pôquer.
A princípio não dera bola àquela elegância do chamado “forasteiro da caixa”. Não quis saber da sedução naquele momento. Ele, que desprezava todos não demorou em seu pedido. Pinga. Nada mais. Ao colocar o copo na boca passou então a vislumbrar mais uma possível conquista. Percebeu em movimentos circulares do copo pela boca que o corpo era mais uma forma de atração nas mulheres. Ela sabia demais.
Não trocaram mais olhares nas horas seguintes que prosseguiu naquele bar. Imaginou o perfume que a decaída jovem talvez usasse. Imaginou com quantos saíra naquele dia ou na noite passada.
Descobriu através do cochicho do balconista que seu nome era Rita. Nenhum sobrenome ou vida anterior que conhecesse. Chegara também na cidade no mesmo trem que o trouxera.
Animou-se por serem dois forasteiros. Pagou pela pinga de horas atrás. Levantou-se e sem vergonha alguma abraçou e falou em voz baixa seu nome a Rita. Ela sorriu aos olhos do viajante.
O crepúsculo dava lugar à noite. Nada mais na rua chamava a atenção do que os passos apressados de um homem e mulher, estranhos aos caipiras. Falaram-se por longas horas. Bobagens, vantagens, casos e vulgaridades dóceis que a conquistaram.
O quarto, com seus móveis velhos, tornou-se local de conquista e gozo para mais uma noite de luxúria e perdição. Mas a caixa, aquele que Rita sabia o nome de cochicho, continuava a procurar todos os dias.
Na manhã seguinte, com o sangue nas mãos, a fatalidade estaria consumada e a cartada, enfim, certeira. Dissera a ela que ninguém sabia da caixa. Confidenciou o conteúdo do tesouro. A princípio a enganara, pois na loucura escondeu seu tesouro debaixo da cama. Enganou a todos, a ladrões, cafetões e malandros. Mas nunca mais faria Rita de idiota.
O telefone tocava incessantemente naquele pequeno quarto de hotel. Já era metade da manhã. Nua, Rita caminhou levemente pelo quarto. A faca na mão serviu como chave, tanto para a valise quanto para a caixa. Notas de cruzeiros que não mais valiam jogou pela janela. Dentro da caixa, envolta em um pano branco, amarelado pelo castigo do tempo, encontrava-se em perfeito estado o crânio de uma mulher.
Após eternos instantes vestiu-se demoradamente. Beijou o homem de sua vida na tarde anterior; abriu a porta e descendo as escadas, sorriu de felicidade.
Em uma terra distante vivia um gigante,
Que possuía ouro, um castelo, escravos.
O gigante vivia a cuidar de seu jardim,
Cuidando de rosas, violetas e margaridas.
Também cavalgava por entre as nuvens
E corria pelos corredores do castelo.
Seus escravos lhe serviam os melhores pratos,
As melhores iguarias vindas do oriente.
Os músicos tocavam os maiores hinos a ele,
Os anjos cantavam naquela paz do salão.
Mesmo assim o gigante estava triste.
Queria alguém para viver eternamente.
Decidiu então descer à terra dos homens
E lá tentar encontrar seu destino.
Caminhou de reino a reino,
Atravessou mares e rios.
Subiu montanhas e
Desceu precipícios.
Quase desistindo, o gigante senta-se em uma pedra
E começa a admirar a formiga que vai passando,
Carregando nas costas o sustendo da vida e o sofrimento dos pobres.
Percebeu então que deveria ficar.
Então o gigante continuou na pedra e ajudou a formiga por toda a eternidade.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
A menor poesia do mundo
A menor poesia do mundo
Foi escrita por um único poeta.
Em apenas um dia.
Inspirada numa fração de segundos.
Possui apenas uma estrofe,
Fazendo-se da metade de rima.
É extensa em sua milimetragem.
Utilizou-se de uma cante ainda não inventa.
Publicada em jornais e livros de esquerda, direita.
Ao centro causou polêmica.
A menor poesia do mundo uniu povo
Destruiu nações por aparecer
em manuscritos sagrados.
Apaixonou casais por seu sentido mínimo.
Intrigou os intelectuais. Soou complexa demais.
Descreveu com precisão heróis que nunca foram à batalha.
A menor poesia do mundo
Sobreviveu aos séculos escondida em traduções
Em aramaico, árabe ou latim.
Desapareceu como uma vasta lembrança
Da infância.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
Das constelações, uma estrela solitária
Serena do firmamento.
Foi pôr causa dessa estrela só;
Que deixei as emoções do Universo.
O universo vago de estrelas- almas.
As emoções já não me pertencem.
Lhe pertencem. Nos pertencem. Estrela Dalva do céu criado
Alegria ao criar seu pano azul- céu estrelado.
Os limites da vida... os limites humanos. (limites pequenos)
Os homens as amam, somenteas estrelas.
Dalvas ou não.
O universo nos amam.
Você, estrela da vida. Viva.
Estrela só...
... os poetas a amam.
E de repente...
... Ele se senta.
Em uma cadeira branca,
Sem nenhum conforto.
Olha apenas para o nada.
Se sente melhor no escuro,
Sozinho!
Está assim há tempo,
Sem nunca dar risada,
Sem falar,
Nem ao menos se mexer.
Somente olha para o nada.
Lê aquela carta antiga...
... apaixonada...
Mas rasgada!
E Ele diz que o passado doeu.
E agora?
Esqueça o passado?
E antes de dizer,
Ele me olhou.
E chorou.
Deus... apenas... chorou!!
Creio em ti todo poderoso,
O que não mais tem valor,
O ser onipotente,
O impotente perante ao seu século,
Seu homem das cavernas.
Um primata na taba,
Na oca, na caverna,
Sem fome,
Com dor,
Pirata na taberna.
Meu vinho bebido pôr mulheres de corte,
Da corte. Nossos pobres nobres,
De boteco ao bar é um passo na esquina da idade,
Eu, um louco completo sem razão alguma,
Para estar aqui de novo,
Escrevendo sem sentido,
Como se a vida tivesse alguma...
Mas todos os patriotas me adoram,
Eu sou apenas um país parado no tempo,
Meu reino ruiu... mas não perco a pose,
Perco o jogo,
Perco os sentidos da pátria.
E minha pátria é... é... é... não sei.
Apenas não sei o que se passa em sua mente,
Pequena, repleta de emoções inexplicáveis
Eu já te vi de outra maneira
De outros versos,
Com outros olhos.
Dentro de mim apenas o que escondo
De você, de mim e de todo ser vivo.
Que ama. Ou poderia amar.
De outros versos.
Com outros versos vi seu pequeno universo,
Preso em mim. Você me prendeu nele.
Cuidado com a cidade medieval meu pequeno universo,
Preso dentro de você.
Versos serpentes,
Que me mataram... envenenado de palavras
Indesvendáveis, sem sentido, infames
E pôr mais que eu tente...
... em dois ou três minutos (ou até menos tempo),
aqui jaz um poeta.
Palhacinho, faça o povo sorrir
Palhacinho,
de toda a sua maquiagem, seu rosto é disforme.
Palhacinho, me anime de nós. Me alegre com sua brincadeira.
Aonde caia, equilibre a bola os pratos as coisas do universo.
Palhacinho, vem gente de todo o canto
Ver sua arte. Se sinta feliz!
Você quer descanso... muitos risos, não?
Palhacinho, cadê você?
O espetáculo apenas começou
E você palhacinho, aonde está?
Maquiou- se todo, cadê você?
Palhacinho, quer descer a lona,
Ir embora com o circo... adeus!
Mas o povo ainda não sorriu.
Palhacinho, cadê você?
Palhacinho tirou seu nariz vermelho,
Retirou a maquiagem,
guardou os sapatos largos,
despiu- se do macacão colorido
E sentou- se na frente do espelho,
Sem a maquiagem. Se viu como gente.
Como normal, encarou seu verdadeiro rosto.
E gargalhou de si mesmo.
Palhacinho, cadê você?
O povo ainda não sorriu...
Marcas de violência no rosto,
Um copo de álcool,
Mais um desgosto.
Espelho estilhaçado no banheiro,
A privada entupida, sua igreja,
Cada desgraça.
São apenas sete pecados cometidos.
E quais de suas pernas ainda se move?
Quer ficar na cama imóvel,
Imperceptível. Fora desta realidade (ela é cruel).
Sabendo que a cura impossível
Será um novo amanhã em seu hoje.
As ruas são infinitas
Continuo a lhe procurar atrás de paredes de concreto...
... o meu amor por você ainda é incerto.
As ruas continuam infinitas,
Assim como os caminhos de nossas vidas.
A cidade não se importa e nem sente nossos desejos,
Sabe de nossas angústias em cima de cada prédio, prontas para pular.
Braços de ferro seguram cada parte de um corpo esfacelado de amor...
... Não há documentos, sobrenomes, sexo, roupas, faces...
Existe apenas a certeza de que choverá após o enterro.